quarta-feira, 27 de abril de 2011

O que é o Santo Daime ?


O Santo Daime é uma manifestação religiosa surgida em plena região amazônica nas primeiras décadas do século XX. Consiste em uma doutrina espiritualista que tem como base o uso sacramental de uma bebida enteógena (para os psiquiatras, uma droga psicodélica, a ayahuasca, com o fim de catalisar processos interiores e espirituais sempre com o objetivo de cura e bem estar do indivíduo. A doutrina não possui proselitismo, sendo a pratica espiritual essencialmente individual, sendo o autoconhecimento e internalização os meios de obter sabedoria.

Segundo seus adeptos, a doutrina do Santo Daime é uma missão espiritual cristã, que encaminha os seus praticantes ao perdão e a regeneração do seu ser. Isto acontece porque o daimista, ao participar dos cultos e ingerir o Santo Daime inicia um processo de auto conhecimento, que visa corrigir os defeitos e melhorar-se sempre, para que possa um dia alcançar a perfeição.

Nos rituais sempre há uma forte presença musical. São sempre cantados hinos religiosos e são usados maracás, um instrumento indígena ancestral, na maioria dos locais de culto, além de violas, flautas, bongôs e atabaques.

Surgiu no estado brasileiro do Acre, no início do século XX, tendo como fundador o lavrador e descendente de escravos Raimundo Irineu Serra, que passou a ser chamado dentro da doutrina e por todos que o conheciam como Mestre Irineu. Após conhecer a bebida sacramental chamada de ayahuasca pelos nativos da região Amazônica, Irineu Serra teve uma visão de características marianas, em que um ser espiritual superior lhe entrega a missão do Santo Daime.

História
Raimundo Irineu Serra nasceu em São Vicente Ferrer, no Estado do Maranhão em 1892. No final da primeira década do século, embarcou para o então Território do Acre para trabalhar nos seringais, onde se estabeleceu próximo à cidade de Brasileia, na fronteira com a Bolívia. Foi ali que Raimundo Irineu Serra, teve sua iniciação com a ayahuasca (um dos muitos nomes da beberagem), recebendo a missão de uma entidade feminina associada com a Virgem Maria (Virgem da Conceição ou Rainha da Floresta) de expandir a doutrina e utilizar todo o conhecimento nela inserida para a cura.

Mestre Irineu não inventou a ayahuasca, foi apenas responsável pela cristianização do seu uso, rebatizando a bebida a partir do rogativo "Dai-me Amor", "Dai-me Firmeza". A nova seita religiosa mesclou elementos culturais diversos como as tradições caboclas e xamânicas, o catolicismo popular, o esoterismo e tradições afro-brasileiras.

Na década de 1930 inicia seus trabalhos espirituais com um pequeno grupo de seguidores nos arredores de Rio Branco e, com o passar dos anos, viu esse grupo aumentar em tamanho e importância no cenário acreano. Raimundo Irineu Serra faleceu em 6 de julho de 1971. Após seu falecimento, houve dissidências, sendo a mais famosa, a liderada por Sebastião Mota de Melo, a partir do início da década de 1980.

Em 2006, estimava-se em aproximadamente 10.000 os seguidores dessa doutrina no Brasil e no mundo. Há centros legalmente instituídos em quase todos os estados brasileiros e em países como Espanha e Países Baixos, além de grupos que celebram os cultos em países como Estados Unidos, Canadá, Japão, Argentina, Chile, Uruguai, Venezuela e Portugal.

A doutrina ficou então dividida em duas vertentes principais:
O Centro de Iluminação Cristã Luz Universal (CICLU) - Alto Santo - dirigido pela viúva do mestre, Peregrina Gomes Serra.

O CEFLURIS, fundado pelo Sebastião Mota de Melo, natural de Eirunepé, Amazonas. O Centro Eclético de Fluente Luz Universal Raimundo Irineu Serra (CEFLURIS) foi registrado em 1974, com sede na cidade do Rio Branco, como um centro espírita estruturado sob a forma de sociedade religiosa sem fins lucrativos, responsável pela organização da Doutrina e pela feitio e distribuição da bebida sacramental utilizada nos rituais.

Inúmeros centros independentes ou não diretamente ligados ao CICLU ou ao CEFLURIS surgiram após a expansão para o resto do país. Um dos mais recentes desdobramentos desta expansão é o surgimento de centros independentes, que promovem sincretismos com a Umbanda, O Espiritismo, o Hinduísmo. 

Um centro considerado expansionista, mas que ritualísticamente segue os princípios do Alto Santo é o Centro Eclético Flor do Lótus Iluminado - CEFLI, com sede em Capixaba, Acre, e dirigido por Luiz Mendes do Nascimento, mas com seguidores em vários locais do mundo.

O uso ritual de substâncias psicoativas como a ayahuasca vem sendo discutido em vários países. No Brasil, o CONAD (Conselho Nacional Antidrogas) do Brasil, retirou a ayahuasca da lista de drogas alucinógenas conforme portaria publicada no Diário Oficial da União em 10 de novembro de 2004, permitindo o uso ritual.

FonteWikipédia, a enciclopédia livre.

O Fundador.


O Santo Daime foi fundado por um homem saído do povo. Raimundo Irineu Serra, Mestre Irineu como é chamado pelos seguidores do culto, era negro, neto de escravos, nascido na cidade maranhense de São Vicente de Férrer em 15 de dezembro de 1892, filho de Sancho Martinho Serra e Joana Assunção Serra, primogênito de uma família de cinco irmãos (Dico, Verônica, Maria e Nhá Dica).

Foi para o Acre a fim de trabalhar na demarcação de fronteiras, também atuou em seringais da região e na Guarda Nacional. Ali, na Amazônia, do alto de seu 1,98m, conheceu a ayahuasca em solo peruano, das mãos de um caboclo chamado Don Pizango. Segundo narra a tradição daimista, ele teve uma visão com a Virgem da Conceição, a Rainha da Floresta, que lhe "entregou" a doutrina do Santo Daime.

Mestre Irineu foi concebendo (ou "recebendo" para usar um termo daimista) a doutrina do Santo Daime durante alguns anos, submentendo-se a diversas provações de sua fé, tornando-se um exemplo de humildade, de amor ao próximo e de prática de princípios cristãos, tendo sido admirado em toda a Rio Branco de seu tempo.

Militar reformado e simpatizante da Arena, a admiração de que gozava o Padrinho Irineu ia desde gente simples que vivia nos igarapés e nas colônias ao redor de Rio Branco até autoridades civis e militares.

Juramidam, nome espiritual que recebe, deixou um legado de trabalho, força, fé e esperança. Mestre Irineu foi o fundador do CICLU- Centro de Iluminação Cristã "Luz Universal" em que se sagrou Mestre-Imperador.

Ainda vivo, viu surgir outros trabalhos religiosos que se utilizam da ayahuasca, como é o caso da Barquinha. Após sua morte, em 6 de julho de 1971, aconteceram dissidências no CICLU e várias igrejas se formaram a partir daí, no Grande Cisma.

Informações, depoimentos de seus contemporâneaos e muito mais fotografias do Mestre Irineu podem sem descarregadas no seguinte endereço:

Saiba mais sobre a Ayahuasca.

Hinários.

Doutrina cantada, o Santo Daime conta hoje com mais de 80 hinários, segundo a
Hinarioteca Daimista. Os principais são "O Cruzeiro", do Mestre fundador da doutrina, e outros quatro hinários, conhecidos como "os quatro falecidos", "hinário dos finados" ou, ainda, "hinário dos mortos":

 Vós Sois Baliza, de Germano Guilherme;
• Seis de Janeiro, de João Pereira;
• O Amor Divino, de Antônio Gomes;
• O Mensageiro, de Maria Marques "Damião".

Cada igreja, entretanto, possui, além desses, seu(s) próprio(s) hinário(s) oficiais.

São, ainda, bastante conhecidos e executados os hinários:

 Sem nome, de João Pedro;
 Bandeira de Paz, de Percília Mattos;
 Lua Branca, de madrinha Rita Gregório;
 O Assessor, de Tetéu;

As Igrejas.

Atualmente são inúmeras as igrejas de Santo Daime no Brasil e no mundo. Em quase todos os estados da federação brasileira encontram-se igrejas, centros e "pontos", pequenos grupos que comungam desinstitucionalizadamente a bebida sagrada. O Santo Daime, ao contrário de outras igrejas, não possui uma autoridade central. Cada igreja possui seu responsável e, caso a igreja possua filiais, o responsável pela matriz passa a ser a autoridade central daquele núcleo e suas células. A liturgia daimista originalmente concebida por Mestre Irineu passou por algumas transformações em algumas igrejas, o que hoje permite reuni-las (não separá-las) em dois grupos:

Centros de Iluminação Cristã

Igrejas alinhadas ao programa litúrgico original de Mestre Irineu, conhecidas no meio daimista como "Alto Santo", menção ao bairro riobranquense onde está o CICLU, igreja que foi presidida pelo Mestre-fundador, que testemunhou seu legado litúrgico quando de seu falecimento. Em tais igrejas, a liturgia original deixada por Mestre Irineu e a comunhão soberana do Santo Daime (ayahuasca) como sacramento se dá sob princípios exclusivamente cristãos.

Centros Ecléticos

Igrejas alinhadas ao programa litúrgico concebido pelo Padrinho Sebastião Mota de Melo e conduzido por seu filho e sucessor, o Padrinho Alfredo Gregório de Mello, no qual a comunhão do Santo Daime como sacramento soberano se dá sob princípios cristãos, de religiões orientais e abarca elementos da Umbanda em alguns trabalhos.
Centros Xamânicos

Núcleos liderados por pessoas oriundas do Santo Daime, que até realizam trabalhos do calendário daimista e na liturgia daimista, mas cujo ritual se estabelece com bases em tradições ritualístas incaicas ou incaico-inspiradas, em tradições norte-americanas (navajos e lakotas) ou brasileiras (amazônicas, guaranis e tupis.)

Alvo de polêmica, chá de Santo Daime é consumido há 300 anos.

Bebida era usada por índios antes de ser incorporada a religiões.
Expansão de igrejas levou consumo da ayahuasca para EUA e Europa.

Alvo de polêmica desde o assassinato do cartunista Glauco Villas Boas e do filho dele, Raoni, há uma semana, o chá de ayahuasca, conhecido popularmente como “Santo Daime”, é consumido por comunidades indígenas da Amazônia há pelo menos 300 anos.

Relatos históricos dão conta de mais de 70 grupos que usavam a ayahuasca – e suas mais de 40 diferentes denominações – nos países ao longo da Amazônia (Brasil, Colômbia, Peru, Equador, Venezuela e Bolívia).
O uso nas tribos estava relacionado ao xamanismo, às práticas de cura e aos mitos de origem dos grupos, diz a antropóloga Beatriz Labate, autora de vários livros sobre a ayuahasca.

Divisão

Foi o mestre Irineu que adaptou o uso da bebida, antes utilizada de forma terapêutica pelos xamãs indígenas, aos cultos, que incorporam elementos do xamanismo caboclo, do catolicismo, do esoterismo e do espiritismo, diz o professor de antropologia da Universidade Federal da Bahia Edward MacRae, autor de “Guiado pela Lua - Xamanismo e Uso Ritual da Ayahuasca no Culto do Santo Daime” (ed. Brasiliense).

Mais tarde, o Santo Daime foi dar origem a duas novas igrejas. Após uma revelação, um dos discípulos do mestre Irineu, Daniel Pereira de Matos, fundou a Barquinha, igreja mais restrita ao Acre, que tem elementos africanos mais fortes. Em Rondônia, outro daimista, José Gabriel da Costa, fundou a União do Vegetal (UDV), que adota a grafia hoasca.

Da Amazônia para os centros urbanos

No final da década de 70, muitos jovens de classe média brasileira, a caminho das ruínas de Machu Picchu, conheceram o chá no Acre e se converteram à religião, que migrou da Amazônia para os grandes centro urbanos, como Rio, Brasília e Florianópolis.

A adesão de pessoas conhecidas na mídia, como Lucélia Santos, Ney Matogrosso e Maitê Proença acabou servindo com uma divulgação maior do Daime, despertando o interesse em vários lugares, inclusive em outros países”, diz o historiador Henrique Carneiro.

Expansão

Mais conhecido nos centros urbanos brasileiros, não demorou até que o chá de ayahuasca chegasse a outros continentes. Durante a década de 80, segundo a antropóloga Beatriz Labate, o Santo Daime e a União do Vegetal abriram suas primeiras igrejas nos Estados Unidos e Europa.

“No inverno de 1993, um grupo de seis pessoas foi à comunidade de Céu de Mapiá [no Acre]. Eles encontraram [o fundador] Padrinho Alfredo e quando ele soube o que estava acontecendo na Holanda, batizou de Céu dos Ventos”, conta Irene Hadjidakis que, com o marido Marco, ajudou a fundar uma das duas igrejas do Santo Daime no país, em Haia, há 16 anos.



O consumo do chá em rituais, no entanto, começou dois anos antes, quando tomaram conhecimento da visita de um grupo da Igreja acreana à Espanha. “Desde esta época, se tornou possível participar de rituais do Santo Daime na Holanda de forma constante. O grupo cresceu muito rápido e, em poucos meses, estávamos conduzindo rituais com 200 participantes”, lembra. 

Umbandaime

Nas grandes cidades, o chá do Santo Daime passou ainda por um terceiro ciclo de expansão, chegando a comunidades de espiritismo, umbanda e religiões orientais.
  
 “Uma vez que o Daime e a UDV chegam nos grandes centros urbanos, começam a combinar suas práticas com matrizes religiosas típicas das cidades, em diálogo com vertentes orientalistas, hinduístas, umbanda e terapias humanísticas como meditação, yoga, expressões artísticas diferentes”, explica Beatriz Labate, pesquisadora do Instituto de Psicologia Médica da Universidade de Heildelberg, na Alemanha.

Há um processo sincrético com certas tradições, como o 'umbandaime’ [resultado da fusão do Daime com a religião afro-brasileira], a abordagem mais hinduísta, neo-pagã, que dentro dos seus rituais passaram a incorporar o uso da ayahuasca”, diz o professor Edward MacRae.

Longe de representar o surgimento de novas religiões, segundo o antropólogo, o que se observa na introdução do chá nestas religiões é a convivência de práticas do Santo Daime, como concentrações, entoação de hinos e mirações [visões após ingestão do chá]. “O Daime é uma religião bastante sincrética, não só para a crença a santos católicos, mas também para outras entidades indígenas e africanas”, diz. 


Legislação

Em janeiro deste ano, o governo brasileiro oficializou as regras para o uso religioso do chá de ayahuasca. Segundo os especialistas, a resolução, no entanto, é resultado de uma discussão iniciada há quase 20 anos. O Brasil nunca proibiu a ingestão do chá em cerimônias religiosas, mas faltavam orientações para evitar o uso indevido.

Preconceito

Para a pesquisadora, no entanto, a "maneira como alguns setores da mídia tem discutido o tema" após o assassinato do cartunista Glauco é produto de preconceito. “Existe um forte dispositivo antidrogas, uma tendência a sempre se lidar de maneira preconceituosa com o tema. No caso da ayahuasca, se faz julgamentos mais severos do que se houvesse um assassinato em outra igreja qualquer.”

O professor Edward MacRae concorda. “Usar essa substância como sacramento causou espanto por muito tempo na sociedade, que não estava acostumada com isso. Houve uma série de interpelações ao governo para saber se podia ou não”, afirma.
Labate destaca que o uso da bebida em rituais religiosos é sempre mediado por pessoas experientes, que a servem nos rituais seguindo certos preceitos. “Essas igrejas têm forte conhecimento acumulado. A quantidade da dose [ministrada] varia de acordo com o peso da pessoa, da idade, do sexo, de quanto tempo participa do ritual. Para as religiões, é uma substância extremamente sagrada.”


Fonte. G1

Legalidade do Santo Daime.

A partir da década de 80, devido a movimento expansivo do Santo Daime ocorrido na década de 70, várias foram as iniciativas governamentais no sentido de dar a conhecer a legitimidade e a legalidade do uso religioso da ayahuasca/santo daime:

• 1982 - Nos momentos finais da ditadura no Brasil, uma Comissão formada por médicos, antropólogos, psicólogos, representantes do Ministério da Justiça, Polícia Federal e Exército, visitaram comunidades daimistas na Amazônia.

• 1984 - O CONFEN - Conselho Federal de Entorpecentes, órgão do Ministério da Justiça, cria uma Comissão de Trabalho para estudar o uso ritual do ayahuasca.

• 1985 e 1986 - Visitas da Comissão de Trabalho do CONFEN a comunidades usuárias. Confirmação de pareceres positivos de outras Comissões.

• 1987 - Conclusão da Comissão de Trabalho sobre o uso ritual da ayahuasca/Santo Daime que verificou que "os rituais religiosos realizados com a bebida sacramental Santo Daime/Ahyauasca não traziam prejuízos à vida social e sim, contribuíam para a sua maior integração, sendo notórios os benefícios testemunhados pelos membros dos grupos religiosos usuários"

• ---- - Divulgação de resultado de pesquisas farmacológicas e psico-sociais que comprovaram a inexistências de riscos de adição e dependência no uso da ayahuasca em contexto ritual.

• 1991/1992 - Implantação de nova Comissão que realiza novos estudos e visitas às principais entidades ayahuasqueiras e daimistas. O CONFEN posiciona-se pelo acompanhamento do uso ritual da bebida, sem nenhuma orientação proibicionista.

• 2004 - O CONAD - Comissão Nacional Anti-Drogas, atual órgão do Ministério da Justiça brasileiro, após dezoito anos de espera da comunidade daimista, reconhece a legitimidade do uso religioso da ayahuasca e a legalidade de sua prática.